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O que penso sobre...

 

O Técnico de Segurança e o Treinamento

 

Gosto sempre de começar pelo fim: sem treinamento, não há Segurança no Trabalho; sem treinamento, não há como prevenir acidentes; sem treinamento, o Técnico de Segurança vai ficar “como o cachorro tentando pegar o próprio rabo”.

Qualquer Técnico de Segurança que quiser alcançar resultados positivos com seu trabalho, deve pensar em elaborar e cumprir uma Política de Treinamento (ou um Programa de Treinamento, como queiram), tendo sempre em mente a definição que o professor e escritor Idalberto Chiavenato faz da ferramenta treinamento: "treinamento é o processo educacional, aplicado de maneira sistemática e organizada, através do qual as pessoas aprendem conhecimentos, atitudes e habilidades em função de objetivos definidos”. Não há melhor definição! E atentem para as palavras grifadas: processo, de maneira sistemática e organizada e objetivos definidos. Se não se levar em conta estas palavras, dificilmente se alcançará resultados positivos. Será pura perda de tempo!

Neste artigo, quero levantar algumas reflexões e apresentar algumas sugestões, baseadas nas minhas experiências pessoais:

  1. Faça um Levantamento de Necessidades de Treinamento (LNT): o levantamento de necessidades de treinamento nada mais é que um trabalho de pesquisa que se inicia com a coleta de informações e se completa com a análise das informações levantadas. Para o Técnico de Segurança, este trabalho de pesquisa deve ser feito durante cada ida às áreas de risco, visando observar operação de máquinas e equipamentos, comportamentos de riscos, posturas pessoais, ouvir opiniões dos trabalhadores, “colher impressões” etc. Transforme cada “passeio” pelas áreas da empresa como parte do seu processo de LNT. Pode-se também colher informações importantes através de estatísticas de acidentes ocorridos na empresa, atestados médicos apresentados pelos trabalhadores, riscos ambientais descritos no PPRA (ou equivalente), atas das reuniões da CIPA, etc. Enfim, as fontes são inúmeras. Como o próprio termo diz, deve-se levantar as ações ou conhecimentos que necessitem intervenções e/ou mudanças. Faça isso de forma sistematizada e contínua.

  2. Análise dos dados coletas no LNT: após a coleta dos dados, nos diversos instrumentos expostos acima, deve-se proceder uma análise destes dados visando identificar as causas e onde há a necessidade do treinamento como uma intervenção de prevenção, planejando o que é emergencial/prioritário e o que pode ser tratado a médio ou longo prazo. Pode ser que, após analisados os dados levantados, se descubra que apenas o treinamento não resolverá o problema, sendo necessárias outras intervenções (organizacionais, ergonômicas, operacionais, etc.).

  3. Controle de treinamentos obrigatórios: existem treinamentos que o Técnico de Segurança é obrigado a realizar, para se manter em dia com a legislação. São os casos previstos na CLT e nas NR´s, como, por exemplo, treinamentos para membros da CIPA (NR-5), treinamentos para eletricistas (NR-10), treinamentos na operação de máquinas (NR-12), etc. Há também situações específicas de exigências de treinamentos relacionadas com a saúde, meio ambiente, políticas de qualidade, etc. O Técnico de Segurança deve ter um controle de quais os treinamentos são obrigatórios para cada empregado na empresa, levando-se em conta quais são as atividades, máquinas e ferramentas operadas e características do trabalho de cada empregado. Sugiro colocar tudo isto numa planilha para melhor controle. Se quiser, no meu site (jsa0706.wix.com/sergioantunes) tem uma planilha Excel, gratuita, com este objetivo. Faça bom uso!

  4. Treinamentos para Encarregados/Chefias: pelas especificidades dos cargos de comando (gerentes, encarregados, chefes ou qual seja a nomenclatura que sua empresa adote), é extremamente importante que o Técnico de Segurança inclua, em seu Programa de Treinamento, treinamentos específicos para estes empregados. Principalmente focando o papel de preposto (representante da empresa) que estes cargos tem perante os subordinados. Aborde as questões jurídicas sobre responsabilidade civil e criminal das pessoas que exercem cargos de comando na sua empresa. Fale também sobre questões envolvendo assédio moral, tipos de liderança, comunicação, feedback, motivação, negociação, conflitos no trabalho, etc. Tenha como objetivo principal, ao treinar quem exerce cargos de comando, trazê-los ativamente para atuarem na prevenção de acidentes dentro da sua empresa.

  5. Treine apenas o necessário, na quantidade certa e para as pessoas certas: após o LNT e levando-se em consideração as duas situações específicas listadas acima, deve-se partir agora para o remédio a ser aplicado. E, para cada situação levantada, o Técnico de Segurança deve se questionar: QUAL O MELHOR REMÉDIO?: DDS? Treinamento formal em sala de aula? Treinamento externo? Emitir uma Ordem de Serviço? Criar uma Norma Interna? Advertência por escrito? Manter um diálogo sistematizado com um determinado trabalhador sobre um determinado fato observado? Um pequeno aparte neste texto: achou estranho as menções de OS, norma interna e advertência? Pois, tenha certeza, TUDO ISTO TAMBÉM É TREINAMENTO!!! E devem ser elaboradas como tal!Continuando... Vejo e ouço muitas críticas a treinamentos introdutórios em muitas empresas, em que se fala muita coisa num período muito curto de tempo, expondo empregados recém-contratados (e, por isso mesmo, cheios de expectativas e ansiedade diante da nova empresa) a muitas informações, apenas para “atender ao regulamento da empresa”. Ou DDS em que o Técnico de Segurança “escolhe” o tema alguns minutos antes de reunir o pessoal, falando ora sobre segurança no trabalho, ora sobre higiene pessoal ou riscos de acidentes no lar, sem nenhum critério de necessidade ou interesse. Faz por fazer! É preciso ter sempre em mente qual o objetivo de cada ação em treinamento. O que se deseja? Apenas treinar (e ter um registro a ser arquivado) ou mudar um comportamento? Apenas atender ao regulamento da empresa ou propor uma reflexão ao novo empregado sobre o que se espera dele para a prevenção de acidentes? Citei os exemplos do treinamento introdutório e do DDS, mas este raciocínio serve para qualquer tipo de treinamento. Antes de dar um treinamento, você, Técnico de Segurança, deve sempre se perguntar: qual meu objetivo com este treinamento? O que quero alcançar? Treinamento é um processo educacional visando gerar crescimento e mudança de comportamento e em Segurança no Trabalho tudo o que se almeja é mudança de comportamento (de um comportamento inseguro para um comportamento de segurança). Portanto, se você não acredita que aquele treinamento irá gerar crescimento nem mudar comportamento, NÃO FAÇA!. Discuta com seus superiores sobre treinamentos que são realizados apenas por que “constam no regulamento da empresa” e que, no seu entender, não trazem resultados positivos. Escolha muito bem as ferramentas que você vai utilizar para alcançar seu objetivo. Quando for fazer um treinamento, faça-o de verdade, ou seja, seja sincero, honesto, verdadeiro, veemente..., pois só assim você vai passar credibilidade aos seus treinandos e conseguir convencê-los a seguir o que você recomenda.

  6. Registro de todos os treinamentos realizados: Obviamente você deve registrar cada treinamento realizado (introdutórios, operacionais, reciclagens, CIPA, DDS, reuniões de segurança, ordens de serviços, orientações de segurança, etc). Mas não basta apenas registrar cada treinamento. É extremamente importante que você registre da forma correta, para que o treinamento se caracterize como um ato legal, ou seja, tenha força jurídica no futuro. Como? No registro do treinamento deve sempre constar os dados relevantes (nome completo da empresa, data/hora e carga horária total, nome completo do instrutor e qualificação, local do treinamento, conteúdo do treinamento com o máximo de informações sobre o que foi abordado, nome completo e assinatura dos participantes). Outros dados podem ser adicionados, dependendo de cada caso. Um detalhe que considero muito importante é que o participante assine na mesma folha onde constam todos os dados acima. Já vi registro de treinamentos (com a presença de muitos participantes) em que apenas a primeira folha continha os dados acima e as folhas seguintes apenas o nome e a assinatura dos participantes restantes. Por isso, é muito importante que, caso seja necessário mais de uma página para o registro do treinamento, QUE CADA PÁGINA TENHA TODOS OS DADOS RELEVANTES referentes ao treinamento conforme acima. Qual a razão deste “preciosismo”? Em caso de necessidade de prova da participação do empregado em determinado treinamento (numa ação trabalhista ou civil, por exemplo), ficará difícil qualquer alegação de irregularidade/fraude pois o empregado terá assinado na mesma página onde se caracteriza a realização do treinamento em questão.

  7. Resumo do treinamento: prepare sempre que possível, para cada treinamento que realizar, documento impresso para entregar aos participantes ao final do treinamento. Se for um treinamento sobre riscos de acidentes com máquinas/equipamentos, sugiro que você prepare uma ordem de serviço (ou equivalente) sobre os riscos e as medidas preventivas referentes ao manuseio da máquina/equipamento (vide item abaixo, referente manual das máquinas/equipamentos). Que este documento seja sucinto e objetivo, mas com “aparência legal”, ou seja, em papel timbrado, assinado pelo emitente e mediante recibo do empregado em via a ser arquivada. Além deste “aparência legal”, este documento tem o objetivo de auxiliar o empregado a fixar o conteúdo do treinamento recebido.

  8. Tenha os manuais de todas as máquinas e ferramentas elétricas, para subsidiar seus treinamentos em relação ao Art. 157 da CLT (elaboração das ordens de serviço) e à NR-12. A grande maioria dos fabricantes de máquinas/ferramentas disponibiliza os manuais nos sites das empresas. Utilize estes manuais em seus treinamentos de segurança, pois eles passam credibilidade e veracidade aos trabalhadores.

  9. Tenha as FISPQ de todos os produtos químicos existentes na empresa: na FISPQ você vai colher informações importantes para treinar os empregados sobre os riscos de contatos com os produtos químicos usados por eles durante o processo produtivo. Treine-os principalmente sobre o uso dos EPI´s recomendados, além dos procedimentos em caso de contato e vazamentos.

  10. Treinamentos dinâmicos: um treinamento não deve ser feito apenas porque consta em um Programa de Treinamento ou porque a legislação exige. Um treinamento deve ser realizado com o objetivo a que se propõe: CAPACITAR O TRABALHADOR PARA A PREVENÇÃO DE ACIDENTES. Para tanto, não basta se posicionar na frente do trabalhador e “vomitar” em cima do mesmo um monte de informações cheio de termos técnicos e palavras bonitas. É de suma importância que o Técnico de Segurança se preocupe com: a) Material didático: apresentação em Powerpoint ou similar bem elaborada e com o menor número possível de textos longos e repetitivos. Uma apresentação deve trazer a ideia, a imagem, o resumo do que se está falando, pois, segundo o Psiquiatra americano William Glasser, aprendemos: 10% do que lemos; 20% do que ouvimos; 30% do que vemos; 40% do que vemos e ouvimos; 70% do que discutimos com outros; 80% do que experimentamos pessoalmente e 95% do que ensinamos a alguém... 

  11. Treinamento deve ser o mais dinâmico possível, com (sempre que possível) filmes, pausas previstas, intervalos programados, realização de alongamentos em treinamentos mais longos (que tendem a se tornar cansativos e tediosos), voz firme do instrutor, piadas estrategicamente encaixadas, sorrisos e convites para a participação ativa dos presentes... Nunca deixe um treinamento cair na monotonia, pois se isto acontecer seu objetivo irá pelo ralo. Quando sentir que a turma não está receptiva ao assunto abordado, indague-os, incentive-os... Caso se sinta um pouco inseguro sobre sua postura em treinamentos, faça um curso de oratória (que é uma ferramenta muito legal para capacitação de instrutores de treinamento).

  12. Jogos e dinâmicas de grupo preparados antecipadamente para fixar o que se está ensinando. Um Técnico de Segurança que deseja ser um bom instrutor deve preparar jogos ou dinâmicas de grupo visando “quebrar gelo” inicial, motivar os empregados para participarem ativamente do treinamento, incentivar a discussão e reforçar o aprendizado dos assuntos abordados. Um jogo ou uma dinâmica bem escolhida (e bem aplicada) é sempre mais eficiente que qualquer apresentação Powerpoint bem elaborada. Na internet você encontra diversos jogos e dinâmicas interessantes, cada um com objetivos distintos e específicos. Procure aquele que se encaixe melhor com sua proposta e objetivo. Prepare o material necessário e tenha certeza, seu treinamento será lembrado por todos e, principalmente, estará no caminho dos objetivos definidos.

  13. Controle sobre o arquivamento de documentos do SESMT: procure, no dia-a-dia, facilitar a localização dos registros de treinamentos gerados pelo SESMT, para que, quando necessário, você tenha facilidade de localizar estes documentos. Procure manter estes registros dentro da pasta funcional do empregado junto ao RH/Departamento Pessoal ou em pastas identificáveis e acessíveis. Já vi alguns arquivos de SESMT bem bagunçados. Na verdade, eram apenas documentos empilhados, sem qualquer critério de arquivamento (identificação, cronologia, localização, etc). No meio da bagunça, algum documento importante pode não ser localizado.

Enfim, você, Técnico de Segurança, deve ter sempre em mente por que treinar, quem treinar, quando treinar e como treinar. Ao escolher o treinamento como ferramenta de crescimento e mudança de comportamento, você será recompensado com novos comportamentos seguros e estatísticas favoráveis.

Título 1

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